Playcenter fecha as portas após 39 anos de magia e diversão

Playcenter fecha as portas após 39 anos de magia e diversão

Com investimento de R$ 40 milhões, parque reabrirá em 2013 com foco no público infantil.
Bruno Capelas , iG São Paulo | 19/07/2012 07:00:00 - Atualizada às 19/07/2012 13:31:16

Vista área do parque: a partir de 1973, o Playcenter tornou-se parte importante da paisagem da cidade de São Paulo. Foto: Divulgação

Foram 39 anos de muita diversão, emoção, gritos, risadas e histórias compartilhadas nas filas do Looping Star e do Boomerang, inúmeras excursões de escolas e shows de música incríveis. Mas chegou a hora de dizer tchau para o Playcenter: o parque de diversões situado na Zona Norte de São Paulo fecha as portas no dia 29 de julho. De acordo com a Playcenter, empresa que administra o parque, o centro de diversões deverá ser reaberto no primeiro semestre de 2013, com outro nome e outro perfil, mais voltado para o público familiar.

“O conceito do novo parque é oferecer serviços e atrações que possibilitem uma interação plena entre pais e filhos”, diz o boliviano Marcelo Gutglas, presidente do Playcenter desde sua fundação, em 1973. O nome do novo parque ainda não foi divulgado, mas terá capacidade limitada a 4.500 visitantes por dia, número bastante inferior aos 15 mil que o Playcenter pode receber atualmente.






Para o engenheiro carioca Lucas Ferraz, criador do site Clube Brasileiro de Montanhas-Russas (CBMR), São Paulo "vai ficar órfã de atrações radicais para os adolescentes. O fim do Playcenter, o parque de diversões mais tradicional do Brasil, é uma grande perda para a cidade, especialmente em um momento em que o setor está crescendo bastante no mundo”.

Parque de gerações
Aberto em 27 de julho de 1973, entre as pontes do Limão e da Casa Verde, no bairro da Barra Funda, o Playcenter se tornou parada obrigatória da diversão na cidade, recebendo mais de 60 milhões de visitantes em sua história. “Eu cresci indo ao parque. Desde quando eu tinha dez anos de idade, devo ter ido umas 150 vezes”, conta o analista de sistemas Alexandre Scuriza, de 41 anos. “Hoje levo minhas filhas ao Playcenter. Vamos nos despedir do parque no dia 28, e elas estão ansiosas para ir, mas também estão tristes porque nunca mais vão poder brincar lá”, explica.

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Inaugurado com cerca de 38 mil m² (e um investimento inicial de R$ 60 milhões, em valores atualizados), o Playcenter passou por várias reformas ao longo de sua trajetória, tendo hoje 85 mil m² de área. Na época de sua abertura, o ingresso para o parque custava dois cruzeiros (Cr$ 2) para os adultos e um (Cr$ 1) para as crianças, e a entrada em cada brinquedo custava três cruzeiros (Cr$ 3). (Em valores atualizados, um cruzeiro equivale a R$ 0,63). Hoje, quem quiser dar seu último adeus à Looping Star e ao Evolution pagará R$ 57 no Passaporte da Alegria adulto, que dá direito ilimitado a todos os brinquedos










Divulgação
O show de golfinhos e baleias foi uma das atrações mais populares da história do Playcenter

Divulgação
Uma réplica do macaco King Kong veio ao parque em 1977. "Na época, podíamos tirar fotos com o gorila, mas fiquei só na vontade", conta Alexandre Scuriza

Quem visitou o parque sabe que cada pessoa vai ter a sua própria lista de atrações inesquecíveis. Alexandre Scuriza, por exemplo, lembra de quando foi escolhido na plateia para participar do show de baleias e golfinhos, popular durante os anos 1980. “Basicamente, meu papel era ficar de pé em uma plataforma, enquanto as baleias espirrariam água em mim. Eu devia ter uns doze anos na época, e me diverti muito”, lembra.

Cícero dos Santos, gerente de segurança do parque há 20 anos, elegeu como seu favorito o Polvo. “Foi onde começou minha história no Playcenter. Trabalhei dois anos operando o brinquedo, e cuidava dele como se fosse um objeto pessoal meu. Trouxe meu filho aqui quando ele tinha 4 anos de idade, e foi uma sensação inesquecível ver o brilho nos olhos dele”, conta o funcionário, o mais antigo do parque ainda em serviço.

Arquivo pessoal
O engenheiro Lucas Ferraz, na montanha-russa Boomerang, gravando quadro para o programa de Ana Maria Braga

Lucas Ferraz, de 30 anos, por sua vez, é fã declarado da montanha-russa Boomerang. “Gravei uma matéria para o programa da Ana Maria Braga explicando como a atração funcionava. Foi a primeira vez que apareci na TV, e foi emocionante”, conta o carioca. Atualmente, a montanha-russa, que se tornou parte da paisagem da cidade de São Paulo por ficar às margens da Marginal Tietê, está na Costa Rica, para onde foi vendida pelo Playcenter no começo de 2012.

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“Nosso novo projeto não contempla atrações como as Noites do Terror e os brinquedos radicais. Os equipamentos que temos hoje serão negociados com parques brasileiros e internacionais, como o que aconteceu com a Boomerang e com a Windstorm, vendida para o parque gaúcho Alpen Park”, diz Gutglas.

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No coração dos paulistanos
Grandes eventos estão guardados na história do parque que, em seus 39 anos, recebeu shows de artistas como Menudos (em 1984), Bill Haley (em 1975) e The Strokes(na edição de 2011 do Planeta Terra). “Lembro de um show do Ultraje a Rigor em 1987 que foi bem importante para mim”, diz Scuriza.

Além disso, vários famosos passaram pelo local, incluindo o Rei do Pop Michael Jackson, que fechou o parque para si e sua equipe em 1993. “Eu já trabalhava no parque nessa época, mas meu turno de horários não permitiu que eu visse o Michael Jackson. Nunca consegui esquecer isso”, diz Cícero, que tem 42 anos. Marcelo Gutglas definiu a passagem do cantor de “Thriller” como memorável, apontando-a como um dos momentos mais altos da história do parque.



Um filme dos Trapalhões (“O Incrível Monstro Trapalhão”, de 1982) e diversos clipes (o último deles gravado pelo elenco da novela “Carrossel”) foram gravados por lá, além de edições especiais de programas como o “Domingo Legal”, de Gugu Liberato, e o“Domingão do Faustão”. O recorde de visitas em um único dia do lugar, no entanto, se deve ao palhaço Bozo, que comemorou o Dia das Crianças de 1982 junto de 60 mil pessoas.

Outro fato marcante da história do parque foi a visita do King Kong, em 1977. “Lembro que a gente podia tirar uma foto na mão do gorila, mas era bastante caro na época, e eu não tinha muito dinheiro. Fiquei só na vontade”, diz Scuriza.

Divulgação
Michael Jackson veio ao parque em 1993, e brincou por cerca de duas horas com sua equipe

O Playcenter foi cenário também de amizades e paixões. “Já namorei muito na roda gigante, era um lugar bem romântico”, diz Ferraz sobre o brinquedo que foi desativado na última reforma do parque, em 2003. “Quando eu era mais novo, cheguei a perder uma namorada por causa da Colossus [antiga montanha-russa do parque]. A menina queria ir, eu tinha medo, mas não queria admitir, e acabei não ficando com ela. Foi uma paixão interrompida. Logo eu, que hoje gosto tanto de montanhas-russas”, brinca Alexandre.

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Filipe Defacio, criador do site Parque de Diversões, conta que criou o domínio após conhecer amigos por acaso no parque. “Conversando nas filas, enquanto você espera para entrar nos brinquedos, é muito fácil fazer amizade com as pessoas. A ideia de fazer o site surgiu por uma paixão em comum que a gente tinha pelos brinquedos, e a vontade de saber mais sobre eles”, diz o estudante de Marketing de 24 anos.

Para todas as idades
Em nota divulgada em maio, o parque declarou sua intenção de se tornar um “espaço sob medida para os pais. Para que eles possam brincar com seus filhos, os avós com seus netos, os tios com seus sobrinhos, todos se divertindo juntos com muita emoção e atrações inéditas”.

Marcelo Gutglas avalia que a mudança se deve a uma oportunidade de mercado. “Várias pesquisas indicam que esse tipo de parque temático falta em São Paulo, e empresas como a Lego e a Nickelodeon se movimentam para fornecer atrações assim para seu público”, diz o boliviano. “Queremos que os pais desfrutem de experiências únicas com seus filhos”, completa ele, que não vê o fechamento do Playcenter como uma despedida, mas sim como “uma nova história a ser escrita”.

Bruno Capelas
Cícero dos Santos, funcionário mais antigo do Playcenter, diz que ainda não acredita no fim do parque

A nova cara do Playcenter foi criticada por Lucas Ferraz. “Entendo a decisão comercial do parque de reduzir custos, porque é muito mais barato ter um parque familiar, com brinquedos mais baratos e manutenção menos custosa. Mas é uma pena, porque existem diversos parques familiares no Brasil, e muito poucos lugares voltados para o público adolescente”, diz o fundador do CBMR.

Lourival Ribeiro/SBT
Rosanne Mulholland e Maisa, de "Carrossel", gravam o último clipe da história do parque de diversões

“Mesmo que volte com outra cara, não vai ser mais o Playcenter, mesmo o Playcenter triste dos últimos tempos. Depois que eles fecharam a área que continha a roda gigante e os trenzinhos, o parque perdeu boa parte de seu encanto”, comenta Scuriza, que ainda lamenta o fim de uma atração interessante para toda a família em um local acessível.

Membro da família
“Fui tantas vezes ao parque nos últimos vinte anos que parece que estão tirando alguém da minha família com o fechamento do Playcenter”, conta Filipe Defacio. O sentimento de perda é compartilhado por Cícero dos Santos: “Sinto que estão arrancando um pedaço do meu corpo”.

O funcionário mais antigo do parque, visivelmente emocionado, diz que o clima no local é de despedida, embora ele tente a todo custo evitar pensar no assunto. “Não sei como vai ser o dia seguinte ao domingo [29, quando o parque será fechado]. O Playcenter é a minha segunda casa e dinheiro nenhum paga o sorriso que eu vejo na cara das pessoas todos os dias. Por enquanto, prefiro acreditar até o último instante que o parque não vai fechar”...












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